A cobertura de solo é fundamental para a realização de um sistema plantio direto (SPD) de qualidade. É mais comum observarmos culturas de cobertura na estação fria, já que as principais culturas de importância econômica são de verão. Entretanto, independente da estação de cultivo da cobertura (inverno ou verão), ela funciona de maneira semelhante. O que deve-se observar, principalmente, é a quantidade de resíduos vegetais (kg/ha) que permanecem no sistema durante o ano, além da relação C/N dos resíduos e outras características de manejo específicas.
Quantidade de palha e relação C/N
Para o SPD desempenhar sua principal função, a conservação do solo, é necessário que se tenha uma quantidade de resíduos vegetais considerável. A palhada deve cobrir o solo por inteiro, formando uma espécie de “tapete” sobre ele. Estudos indicam que para a manutenção da matéria orgânica do solo e eficiência do SPD, deve-se ter, no mínimo, 8 ton de palha/ha/ano. Dessa forma, é de grande importância se conhecer as espécies existentes para cobertura e quais delas proporcionam maior massa seca.
Para a relação C/N, devem ser considerados dois aspectos: velocidade de degradação dos resíduos (taxa de imobilização e mineralização) vs disponibilidade de nutrientes à curto prazo (para a cultura subsessora). Ou seja, existem dois lados da moeda: culturas com maior relação C/N tem uma menor velocidade de degradação dos resíduos, resultado em maior proteção à estrutura do solo. Entretanto, há uma menor disponibilidade de nutrientes à cultura sucessora. Já nas culturas com menor relação C/N a degradação dos resíduos é mais rápida, resultando, assim, em maior disponibilidade de nutrientes para a cultur sucessora. Porém, essa rápida degradação da palhada resulta em menor proteção do solo, o que pode aumentar a incidência de plantas daninhas e favorecer a ocorrência de erosão.
Uma alternativa recente e interessante para obter rápida disponibilidade de nutrientes as culturas e proteger o solo é a utilização dos mix de sementes para a cobertura. Os mix de sementes englobam espécies com alta relação C/N (gramíneas) e baixa relação C/N (leguminosas, brassicas…), permitindo, assim, um equilíbrio entre proteção do solo e adubação verde. Entretanto, eles devem ser utilizados com cautela. A escolha das espécies que vão compor o mix deve ser adequada para cada região, levando em consideração as doenças e pragas mais comuns e quais espécies são ou não hospedeiras.
A cobertura de solo tem como objetivo manter a qualidade e fertilidade do solo, além de contribuir para a manutenção/aumento da produtividade. Portanto, a escolha do tipo de cobertura deve facilitar o manejo e trazer benefícios.
Importância da cobertura de solo no inverno
Uma das bases para o sucesso de culturas de verão, como soja e milho, é a cobertura de inverno. Dentre os benefícios que as coberturas de inverno trazem para as culturas de verão, se encontra a redução dos riscos de culturas de verão sofrem por estiagem. A escolha de culturas de cobertura que forneçam maior quantidade de palha permite aumento da infiltração de água no solo e maior retenção da umidade.
Ademais, a cobertura permite a manutenção da estrutura física do solo e consequente prevenção da erosão. Outra vantagem, é a redução do impacto da gota da chuva, que forma uma lâmina sobre o solo reduzindo a infiltração de água. Manter o solo coberto também favorece a microbiota do solo, que pode ser benéfica na sua fertilidade e manutenção da M.O.
Não deixar o solo em pousio auxilia na redução de plantas daninhas, já que elas são fotoblásticas positivas e necessitam de luz para germinar. A menor incidência de plantas daninhas no inverno facilita o controle das mesmas no verão.
Aveia preta
É fundamental adequar a escolha de espécies de cobertura com o sistema de rotação de culturas da propriedade. No sistema de rotação de culturas da HS Sementes, há quase 50 anos, foi incluída a aveia preta como cobertura de inverno. Outra culturas foram testadas ao longo do caminho, mas a cultura de melhor adaptação foi a aveia preta.
As principais vantagens da aveia preta são as seguintes:
- Boa rusticidade;
- Bom desenvolvimento radicial;
- Alta relação C/N;
- Alta produção de massa seca por hectare.
É uma cultura não hospedeira de doenças comuns na região, como mofo branco e ferrugem. Dessa forma, não necessita aplicação de fungicidas ao longo de seu ciclo. Além disso, seu robusto sistema radicular auxilia na descompactação do solo.
No mês de maio de 2019, as chuvas na região de Coxilha/RS, onde se encontra a Fazenda Santo Isidoro, ultrapassaram os 230mm. Apesar da pluviosidade intensa a estrutura do solo se manteve, sem a ocorrência de erosão. Isso se deve a cobertura de solo, com bom estabelecimento e massa verde.
Portanto, destacamos que a cobertura de solo é um dos pilares para as boas produtividades.